Há cerca de 3 anos atrás, comecei a coleccionar Juniperus Sabinas, sempre fui e continuo a ser fascinado por Juniperus e as Sabinas eram na realidade o caminho mais curto para adquirir material de qualidade na Europa sem ter de ficar refém de um bom Itoigawa importado que me custaria uma verdadeira fortuna. Avaliei a espécie e tanto a massa verde como a estética da madeira morta cumpriam em absoluto todos os meus requesitos, dessa forma apostei todas as minhas “fichas” na espécie e fui ao longo deste três anos coleccionando peças de qualidade pelo qual me fui apaixonando.
Ao falar com a maior parte das pessoas, todos me informavam que as Sabinas eram muito idênticas aos Itoigawas, não só a nivel de massa verde que tinham alta qualidade como a nivel de madeira morta, adoravam Sol e como todos os Juniperus adoravam humidade, que na minha zona não teria qualquer problema com a espécie. A experiência que tinha com Juniperus na altura eram dois pequenos Itoigawas de viveiro que estavam comigo à cerca de 1 ano e meio e não tinha tido qualquer problemas com eles, por isso tudo apontava para que as minhas fichas tivessem sido apostadas no “cavalo certo”.
Passado quase 4 anos, começo a tirar algumas conclusões em relação às Sabinas e embora estas conclusões possam ser precipitadas (pois venho de uma longa luta contra a Phytophthora) não há nada como “Viver e Aprender” e deixar aqui mais um passo no meu percurso no mundo do Bonsai, pois nos erros também se encontra muita sabedoria e quem sabe daqui a uns anos se estarei aqui a discordar de mim mesmo, isso significava apenas que tinha aprendido algo ao longo da minha viagem com as árvores.
Tendo em conta as características do sitio onde habitam originalmente estes Juniperus no Norte da Europa, a Caparica pouco ou nada tem a ver, estou bem mais a Sul, as temperaturas são seguramente mais altas o ano inteiro, os níveis de humidade mesmo estando relativamente perto do mar não são sequer comparáveis e a exposição ao Sol é bem mais prolongada, o que há partida não seria um problema.
Há 3 anos atrás quando coloquei as minhas Sabinas no viveiro, a maior parte delas tinha um verde absolutamente perfeito, chegadas da Galiza grande parte delas trazia um verde brilhante simplesmente fantástico que se batia com os melhores Itoigawas que tinha visto, optei por as colocar na zona mais solarenga do meu viveiro, seguindo todos os conselhos e mais alguns para dar a estas árvores as melhores condições. Passado 3 anos e mesmo com a descoloração tipica da Phytophthora (que não ajuda certamente à festa) começo a discordar sobre as Sabinas adorarem assim tanto o Sol.
Uma destas Sabinas que sofreu uma descoloração acentuada, esteve virada para o mesmo lado cerca de 3 anos (devido à disposição da massa verde) o lado virado ao sol não estava certamente com o melhor verde e já não se batia com os melhores Itoigawas, à partida culpei de penalty a praga que tinha asolado o meu viveiro, mas quando decidi virar a árvore (já nem sei bem porque!) não poderia ter uma surpresa maior, toda a parte que tinha estado praticamente à sombra durante 3 anos, tinha um verde absolutamente de sonho, estava extremamente vigoroso e transpirava saúde. Rapidamente comecei a tentar identificar o mesmo padrão nas outras Sabinas e todas corresponderam, o lado onde apanhavam mais Sol, não era o lado mais vigoroso, enquanto o lado com menos sol estava com um verde muito mais interessante.
E foi ai que juntei mais algumas peças do Puzzle, algo que sempre identifiquei nas minhas Sabinas era que o interior da folhagem estava sempre com um verde mais interessante, a minha suposição era que nessas zonas a árvore conseguia guardar mais humidade logo tinha outro vigor, juntando a outra peça do Puzzle chego à conclusão que nessas zonas a massa verde tem uma exposição ao Sol muito menor.
Neste momento estou a passar as minhas Sabinas para zonas menos solarengas do meu viveiro e borrifo as minhas árvores regularmente à noite com água mineral (Garrafão de 5L 0,55€), até ao momento os resultados parecem-me ser positivos, mas ainda tenho um longo caminho pela frente para chegar a algo que se possa chamar de “Conclusão”. Este Verão também tenho como plano acrescentar mais rede ao restante viveiro para as proteger do Sol. (Questiono-me se essa é uma das razões que leva o Enrico Savini a ter todos os seus Juniperus e alguns Pinheiros debaixo de rede.)
E os Itoigawas perguntam vocês? Pois bem, tenho 3 Itoigawas, um deles o Odoriko que veio do Japão e os 3 não poderiam estar mais vigorosos, um verde fantástico, um vigor exemplar e não reclamam nem falta de humidade nem excesso de Sol. Questiono-me se esta versatibilidade e resistência não são uma das razões para serem tão populares a nível Mundial.
Por agora não há muito mais a dizer sobre as Sabinas, há que continuar a trabalhar e a manter um cultivo aprumado e esperar resultados das novas condições e técnicas que lhes estou a dar. Só o tempo dirá se a descoloração é da Phytophthora, da minha azelhice ou se afinal tenho uma pontinha de razão. Viver e aprender.